Um Mundo Esquecido – Por: Aline Laginestra

Um Mundo Esquecido – Por: Aline Laginestra – Bem amigos, essa historinha simples e carregada de emoção conta a vida de um imigrante italiano, como tantos que estiveram por aqui, relatando de forma divertida sua doença mental; a demência.

Pode ser doença de Alzheimer ou ter qualquer outra causa relacionada. A ciência estuda seus gatilhos, sintomas e tratamentos.

É sabido que toda família adoece…mas e a perspectiva do idoso?

Alguém já imaginou? O que passa em sua mente?

Este relato só se tornou possível devido a minha vivência tratando idosos portadores de demencia, convivendo com suas experiências, suas queixas perscrutando sua alma, sentindo sua familia.

Também pude incrementar aos olhares de familiar, relatando alguns nuances de minha própria história com minha querida vó que sofreu até os últimos instantes com essa famigerada doença.

Em meio a fragmentos de memória e ao notório esquecimento, com Sr Antonio ainda é possível destacar fatores de risco relacionados a sua condição em seu modus vivendi.

Temos os conflitos de guerra vividos com alto impacto emocional, depressão, tabagismo, isolamento, hipertensão, diabetes redsução de acuidade auditiva…

Para os aspectos comportamentais, destacam-se sua individualidade, os delícrios referenciando seu passado impactante, alucinações com pessoas adoradas e ausentes, o não reconhecimento de pessoas próximas, o não reconhecimento de sua autoimagem, comportamentos sociais inapropriados, a lembrança apenas dos filhos ainda pequenos e, sobretudo, uma ideação negativa com seu filho e esposa, por estarem diretamente nos cuidados com o mesmo, obrigando-o a alimentar-se, banhar-se, dormir, etc., provavelmente acusando-o de impropérios que não acredita realizar.

Por esta razão, de amados passaram a inimigos.

Então, voilà!

Eis que surge um “mundo esquecido”, o mundo íntimo e pessoal de Dônio, comum a tantos idosos que sofrem de mal semelhante, cada um a sua maneira, de forma tão variada, enaltecendo, reforçando, apagando, colorindo, submergindo e emergindo em liames profundos da mente humana.

E eu, portanto, retorno aos caros leitores a pergunta:

Você já esqueceu?

Eu já sei a resposta… Todos já esquecemos e temos nosso “mundo esquecido”, às vezes tão oculto que nem nos damos conta.

Em uma vida cada vez mais complexa, elaborada com avalanches de informações, nem sempre verdadeiras, está cada vez mais fácil esquecer, selecionar valores e elementos que realmente importam.

Sim, caríssimos, somos todos esquecidos neste mundão de Deus!

Vivemos assim, desmemoriados da afetividade, do contato, do altruísmo, da empatia. “Um mundo esquecido” reveça nossos pontos frágeis, nossos valores, nossa vulnerabilidade.

Quando sucumbimos à luz da ciência, somos sim doentes, mas nunca doenças.

O tratamento recebido por Dônio desnuda o que ocorre com a maioria de nossos entes queridos, e até a nós mesmos, a forma com que somos vistos, cuidados e medicados.

E quanto sofrimento familiar em lares sem apoio e em corredores de hospital!

E o que dizer da morte? Já pensaram na morte? A descrição do desfecho final de Dônio leva em conta o senso comum e relato de pessoas que acompanharam seus familiares ou obtiveram experiência de “quase morte”.

O túnel, a visão daqueles que já se foram, a sensação de flutuar, parecem estabelecer a ponte entre os dois mundos. Nas religiões conhecidas, há sempre um continum, a eternidade do ser, nunca a finitude.

Foi assim que nosso personagem, muito real, em lampejos e lucidez, pensou.

Quis a vida dar-lhe a última oportunidade, o golpe de misericórdia, podendo em seu momento final lembrar-se claramente de sua amada Tali!

Quão maravilhosa é a vida, e também a morte, dois extremos da experiência e elucubrações.

Muito ainda há para aprender e transformar.

Então convido-os a repensar.

Se erramos ou acertamos, sorrimos ou sofremos, estamos euxaridos ou descansados, leves ou pesados, lembremos que em quaisquer das circuntâncias “… o amor cobre uma multidão de pecados.” –

A autora.

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